quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O REI E A OMELETE


Era uma vez um rei que tinha todos os poderes e tesouros da Terra , mas apesar disso não se sentiu feliz e a cada ano ficava mais melancólico .
Um dia ele chamou o seu cozinheiro preferido e disse : ¨você tem cozinhado muito bem para mim e tem trazido para a minha mesa as melhores iguárias . de modo que eu lhe sou agradecido . Agora , porém , quero que você me dê uma última prova de sua arte . Você deve preparar uma omelete de amoras igual aquela que eu comi há cinquenta anos , na infância . Naquele tempo , meu pai havia perdido a guerra contra o reino vizinho e nós precisamos fugir , viajamos dia e noite através da floresta , onde afinal acabamos nos perdendo . Estávamos famintos e cansadíssimos , quando chegamos a uma cabana , onde morava uma velhinha , que nos acolheu generosamente . Ela preparou para nós uma omelete de amoras . Quando a comi , fiquei maravilhado , a omelete era deliciosa e me trouxe novas esperanças ao coração . Na época , eu era criança , não dei importância à coisa . Mais tarde , já no trono , lembrei-me da velhinha , mandei procurá-la , vasculhei todo o reino , porém não foi possível localizá-la . Agora , quero que você me atenda esse desejo , faça uma omelete de amoras igual a dela . Se você conseguir , eu lhe darei ouro e a designarei meu herdeiro , meu sucessor no reino . Se você não conseguir , entretanto , mandarei matá-lo ¨.
Então , o cozinheiro falou : ¨Senhor , pode chamar imediatamente o carrasco . É claro que eu conheço todos os segredos da preparação de uma omelete de amoras , sei empregar todos os temperos . Conheço as palavras mágicas quie devem ser pronunciadas enquanto os ovos são batidos e a melhor técnica para batê-los . Mas isso não me impedirá de ser executado , porque a minha omelete jamais será igual á da velhinha . Ela não terá os condimentos que lhe deixaram , senhor , a impressão inesquecível . Ela não terá o sabor picante do perigo , a emoção da fuga , não será comida com o sentido alerta do perigo , a emoção da fuga , não será comida com o sentido alerta do perseguido , não terá a doçura inesperada da hospitalidade calorosa e do ansioso repouso , enfim conseguido . Não terá o sabor do presente estranho , enfim conseguido . Não terá o sabor do presente estranho e do futuro incerto ¨.
Assim falou o cozinheiro . o rei ficou calado , durante algum tempo . Não muito mais tarde , consta que lhe deu muitos presentes , tornou-o um homem rico e despediu-o do serviço real .
Walter Benjamin
( TRADUÇÃO DE LEANDRO kONDER )


Um comentário:

  1. Eu já ouví várias histórias de aprendizado como estas. Algumas com fundos de verdade outras com o intuíto de ensinar humildade, e quase sempre são contadas em rodas budístas, e em outras em rodas ciganas, árabes ou qualquer cultura antiga.

    Fato é que estas histórias são tão antigas quanto são verdadeiras em propósito e nunca perdem a força.

    Ler estas situações fictícias nos faz pensar no quanto ainda temos de aprender. Fica a minha saudosa prostração aos verdadeiros filósofos que nesta terra passaram e com estas histórias aparentemente "pífias" conseguiram gravar no inconsciênte popular uma aura de aprendizado humano e social de como a humanidade deve evoluir.

    São pensamentos assim que transformam as pessoas.

    Direto do Rio.
    Beijos.

    ResponderExcluir